Os quatro tipos de insônia

Sou expert em insônias. Ultimamente elas têm sido raras, porque tenho apagado nove, dez horas de sono por noite, de tão cansada. Mas às vezes me pegam, principalmente esta do terceiro tipo. Vejam se conhecem todas:

Tem aquela insônia em que você fica três horas sem conseguir dormir e, de repente, por pura exaustão, seu interruptor desliga e você desmaia num buraco negro. Apaga mesmo, até o despertador te acordar no susto. É a mais corriqueira e qualquer preocupaçãozinha fajuta da véspera pode causá-la.

Tem a outra insônia, uma danada de ruim, em que você dorme numa boa, como se nada estivesse acontecendo, e, lá pelas 4h, acorda do nada e nunca mais fecha os olhos. Costuma vir seguindo pesadelos escabrosos.

Uma terceira modalidade é aquela em que você parece que está dormindo, mas, na verdade, está trabalhando intensamente. Seu cérebro não desliga, você acorda de dois em dois minutos — às vezes nem percebe que acorda, mas acorda. Quando finalmente tem que levantar, está exausta, corpo moído, como se tivesse corrido uma maratona. Geralmente é acompanhada de ataques de sonambulismo e tem relação com alguma ansiedade — por exemplo, quando ocupamos uma nova função ou mudamos de emprego.

Por fim, existe a pior de todas. Sim, aquela mesma. Você deita a cabeça no travesseiro, fecha os olhos, mas parece impossível mantê-los fechados. O travesseiro começa, de repente, a pesar como um tijolo e incomodar horrores. Não há posição que te deixe confortável, a coluna não se ajusta, não dá aquele estalo gostoso de quem encontrou o túnel pro descanso. Pelo contrário, você vira, gira, fica de bruços, e está sempre incômodo. Todas as luzes estão apagadas e janelas fechadas e cortinas cerradas, mas tudo parece claro demais. E barulhento. Você ouve os longínquos sons da madrugada. Percebe quando os ônibus voltam a circular. As portas que batem. Uma obra de um prédio vizinho, madrugando às 6h. Nesse meio tempo, sua cabeça é um turbilhão de coisas, parece prestes a fundir. Você pensa, repensa, imagina, planeja, espera, decide, escolhe, analisa, viaja, pondera, divaga, torce, retorce, rememora, relembra, sofre, reconstrói, inventa, define, retoma, repete, revive, reaviva, estabelece, trabalha e, não, nunca finaliza. Seu cérebro fervilha, pulsa, borbulha. Cada letra da carta que pensa em escrever é escrita e reescrita, mentalmente, centenas de vezes. Cada letra da frase que pretende dizer é dita em modelos mil, sempre reaperfeiçoados. Às 7h (se for persistente ou tiver plantão no dia, se não, bem antes), desiste de tentar dormir, levanta, calça as pantufas, acende a luz, pega um livro. Ou liga o computador e vai vomitar logo de uma vez tudo o que foi trabalhado na madrugada. Tão mais simples, quando acordada! Faz um capuccino, lê o jornal. Percebe que está zonza de sono, já são 9h, o plantão é às 11h, vale dormir uma horinha. Deita com o livro mais sonolento, mas, no meio das frases, relembra os motivos de preocupação da madrugada. Sono some. Desiste mesmo. E passa o resto do dia como um zumbi.

Essa cabra da peste costuma estar associada a grandes mudanças. O término de um grande amor. O fim de um casamento. A decisão de mudar de país, de profissão. A decisão de ter um filho. A descoberta de ter uma doença muito grave, fatal. Mas nem sempre: às vezes é só o cérebro nos atazanando mesmo.

Enfim, são esses os quatro tipos de insônia já catalogados no mundo. Já os tipos de sono são só dois: o bom e o ruim. Desejo a vocês bons sonos e, em caso de insônias, que desistam (bem) antes e tornem a madrugada mais produtiva e o dia mais longo 😉

Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

6 comentários

  1. De vez em quando tenho alguma insônia, embora normalmente durma pouco. Hoje me pegou o quarto tipo de sua classificação, e não estou com nenhum dos problemas que você elencou. Estou envelhecendo com qualidade, mas o que está me tirando o sono, eu acho, é a rapidez do processo. Sou da teoria do Napoleão. Acho que ninguém vive dormindo. A vida vai ficando curta e mais curta ficará se dormirmos um terço dela. Você é jovem. Durma tranquila suas dez horas.

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    1. Nesta noite dormi 10h de novo 🙂
      Quando eu era mais nova, lá pelos 17 anos, defendia essa ideia de que a vida é curta e dormir é perda de tempo. Tomava café como louca, estudava para o vestibular durante a madrugada, passava um tempão no computador à noite etc. No fim das contas, minha média de sono diária era 5h e ainda tinha insônia com frequência.
      Hoje vejo que isso é uma bobagem. Dormir faz bem, dá energia, fixa os aprendizados do dia. Até minha memória melhorou muito em comparação com aquela época.

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  2. Pois é. Há 08 anos o neurologista me disse que era ansiedade e me deu clonazepam. Tomo todas as noites desde então. De vez em quando falta o remédio por 02 ou 03 dias e acho que vou enlouquecer com o cérebro a mil. Mas gostei demais do seu levantamento. Acho até que vou procurar outro médico e tentar resolver este problema. Obrigada!

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  3. E meu é diferente desses , algumas vezes eu durmo e parece que foi por muito tempo quando vejo as horas vejo que so dormir por alguns minutos , tem noites que nem durmo, e quando durmo acordo farias vezes na mesma noite

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