Tem pauta quicando no/em Minas

No post de ontem puxei a orelha, entre colchetes, das editorias de cidades dos jornais de Minas, que ignoram em suas páginas o Minas Tênis Clube, complexo com quatro unidades em Belo Horizonte e 73 mil sócios.

Segundo dados do próprio site do clube, se fosse uma cidade mineira, as unidades que somam 470 mil metros quadrados ocupariam o 28º no ranking estadual em arrecadação e 43º em população. Nada mal, considerando que Minas é o Estado com mais municípios do Brasil (853).

Além disso, o clube ocupa o nobre quarteirão das ruas da Bahia e Espírito Santo, no bairro de Lourdes (um dos metros quadrados mais caros da cidade), na região centro-sul de Beagá. Seus 30 mil metros quadrados de área foram doados ao clube pelo Governo de Minas. A única exigência é que abrisse a prática de esporte amador para não-sócios com potencial esportivo, os chamados sócios-atletas (que perdiam o acesso, quando deixavam de ser atletas). No plano original da cidade, nesse terreno seria construído o Jardim Zoológico de BH.

O clube é da década de 1930. Trouxe a primeira piscina olímpica da cidade, tem equipes de esportes que movimentam muito dinheiro, como as de natação e vôlei, tem patrimônio arquitetônico tombado pelos órgãos de proteção mineiros (agora sofrendo drásticas mudanças após reforma que começou há mais de dez anos).

Enfim, pautas não devem faltar nesse clube, que é dominado pelo mesmo clã de diretores há décadas (desde que eu era criança, um Zech Coelho ocupava o maior cargo administrativo).

Desde a questão urbanística que levantei no post de ontem até questões raciais (muitas foram as histórias que ouvi, embora tenham se tornado menos frequentes com o passar dos anos. Uma de minhas amigas conta que, quando era criança, sua mãe comprou convite para que a filha da babá pudesse passar a tarde no clube com elas. A portaria barrou a entrada da menina, a menos que estivesse com uniforme branco das babás, aparentemente porque era negra… Aliás, conta-se nos dedos os negros frequentadores do clube).

E as alterações nos prédios tombados, estão em dia? E quanto custaram as reformas, que iriam demorar só sete anos e já se estendem por mais de dez? Por que o balanço social do clube não está disponível na internet? Quantas árvores foram derrubadas para a expansão dos prédios na unidade 1? Havia autorização para isso? Quantos sócios-atletas existem hoje no Minas? Poderia haver mais? Como são feitas as seleções? E sobre os transtornos causados por uma reforma que ainda está longe de acabar? Segundo o site, o prédio de que falei ontem deveria ter terminado neste 2011; ficou para meados do ano que vem. Além dele, há a fase 3, com duas etapas, que nem têm prazo para conclusão. Elas vão mexer na torre do relógio que, se não me engano, também é tombada.

As questões de costumes são as que mais me interessam. Há alguns meses, fiz matéria sobre os clubes paulistanos que exigem que as babás usem apenas branco, dos sapatos à blusa, e proíbem que usem o restaurante com as crianças que acompanham, por exemplo. A Comissão de Direitos Humanos da OAB considerou as regras um apartheid social, em pleno século 21. A matéria teve repercussão bem grande, inclusive entre os sócios dos clubes, mas não comoveu seus conselheiros, que não mudaram uma vírgula dos estatutos.

Pois bem, nos clubes mineiros a coisa não é diferente. Resolução RD0602, de 17/08/2009, do MTC, obriga o uso de um colete branco personalizado pelas babás e veda ao acompanhante a utilização dos equipamentos do clube (por equipamento pode-se entender lanchonetes? Restaurantes?).

E como é nos outros clubes da cidade? No Barroca? No PIC? No Campestre?

Faltam histórias desses redutos da elite belo-horizontina nos jornais mineiros. Quero saber se há casos de humilhação e agressão contra as babás dos filhos dos vizinhos. Se alguma teve que se levantar do banco para madame sentar. Quero saber se as reformas bancadas pelos sócios estão afetando as vidas dos não-sócios e a paisagem urbana de bairros tradicionais da cidade. Quero saber se o corte de árvores provocou uma ilha de calor a mais em Beagá.

Ou mesmo se surgiu outro esporte característico da cidade, como aconteceu com a peteca, anos atrás, que virou pauta do “Jornal do Brasil” embora hoje seja popular em todo canto.

Ficam as sugestões.

Por Cristina Moreno de Castro (kikacastro)

Mineira de Beagá, jornalista (passagem por Folha de S.Paulo, g1 e TV Globo, UOL, O Tempo etc), blogueira há 20 anos, amante dos livros, poeta, cinéfila, blueseira, atleticana, politizada, otimista, aprendendo desde 2015 a ser a melhor mãe do mundo para o Luiz. Antirracista e antifascista.

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